Último projeto do pai da marca, o sedã se tornou sua criação mais duradoura
Mal sabia sir William Lyons, o fundador da Jaguar, o quanto sua
estimativa para o XJ era tímida. Apresentado em 1968, o novo sedã nascia
com previsão de durar cerca de sete anos. Curiosamente, ele se tornaria
um dos maiores e mais duradouros sucessos da empresa. Ele sucedeu o
maior e mais luxuoso sedã da marca, o 420 G, que por sua vez era a
evolução do Mark X, modelo que nunca alcançou números expressivos de
venda. Também ficaria no lugar da bem-sucedida gama de derivados do
modelo médio Mark II: o S-Type e o 420. Com o veloz E-Type arrebatando
corações, havia na época um descompasso dentro da Jaguar entre a
vertente esportiva, cada vez mais admirada, e a luxuosa, discreta
demais.
O XJ6 (o número vinha do motor de seis cilindros) chegou
para acabar com essa história. Seu design marcava a maturidade do estilo
Jaguar para sedãs. Suave, esguio e elegante, ele surpreendia pela pouca
altura (134 cm), comparável à de um esportivo. As demais dimensões o
colocavam entre o 420 G e o 420. Se o acabamento era sofisticado, itens
como arcondicionado, direção hidráulica e vidros elétricos eram pagos à
parte. Uma curiosidade eram os dois bocais de combustível, um ao pé de
cada coluna traseira - o sedã dispunha de dois tanques mesmo, com
capacidade total para 105 litros. O motor de seis cilindros, com 4,2
litros, dois carburadores SU e 180 cv, vinha do 420. Mas havia uma
configuração básica de 2,8 litros e 150 cv. Opcional ao câmbio manual de
quatro marchas, havia o automático de três. Seu monobloco dispunha de
um subchassi em cada eixo e tinha suspensão independente nas quatro
rodas.
O ápice de desempenho e status viria em 1972, com o XJ12,
com o novo motor V12 de 5,4 litros do E-Type, cujos 250 cv permitiam
velocidade maxima de até 230 km/h. Nova versão alongada resolvia a falta
de espaço para pernas no banco de trás, com entre-eixos 10 cm maior.
Para 1973, os para-choques foram elevados para atender à nova legislação
Americana de segurança. Outra novidade era a versão cupê sem colunas
centrais.
Executivo de banco, o paulista Antônio Carlos Castrucci
mantém o XJ6 1974 das fotos desde os 35 000 km do carro, que hoje ainda
marca 60 000 km. Ao volante, o banco de couro é macio e confortável.
Pode-se regular a distância do volante fino que controla a direção
hidráulica. Motoristas com cerca de 1,80 metro enxergam bem o longo
capô. O tanque a ser usado é selecionado por um botão no painel à
direita da direção, abaixo dos vários instrumentos do caprichado painel
de madeira rádica.
Os engates do câmbio manual de quatro
velocidades com sobremarcha por botão são fáceis, mas a embreagem
hidráulica exige algum esforço da perna esquerda. Discos nas quatro
rodas proporcionam frenagens dignas de um sedã atual. A suspensão
consegue combinar maciez com estabilidade nas curvas, auxiliada também
pelos dois amortecedores em cada roda traseira. O que impressiona no
motor de 4,2 litros é a fartura de torque em baixo giro. Apesar da 1,8
tonelada do XJ6, ele acelera com facilidade.
Depois do
cancelamento da versão cupê, em 1977, veio nova reestilização, em 1979,
que fez sumir os quebra-ventos das portas e acrescentou grossa faixa de
borracha aos para-lamas. A história só teria fim mesmo em 1992 (sete
anos após a morte de Lyons), com o fim da primeira geração do XJ, que
hoje está na quarta. Em 24 anos, foram produzidas 402 848 unidades do XJ
original. Depois dele, ninguém mais duvidava se a Jaguar teria
capacidade de criar um sedã de sucesso.
DAIMLER
Como
a Rolls-Royce e a Bentley, a Jaguar já teve sua divisão que oferecia os
mesmos sedãs, mas com acabamento diferente. Sem ligação com a alemã
Daimler-Benz, a Daimler inglesa vendia o XJ entre 1969 e 1992 como
Sovereign (com seis cilindros) ou Double-Six (V12).
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